Denu define sua prática artística como um modo de acessar lugares desconhecidos de si mesmo. Na fatura de seu trabalho, ele explora labirintos e abre portas, como em um processo analítico, nos devolvendo em imagens o que encontra pelo caminho. Essa abordagem investigativa, que possui um caráter narrativo em sua forma de contar histórias, aliada à sua linguagem artística da modelagem 3D, nos conduz inicialmente a uma possível relação com jogos digitais.

Neles, o envolvimento do jogador com o universo criado implica estar ciente de que a nova realidade estabelece suas próprias regras. É um acordo implícito que cria a tensão entre o que o jogo oferece e aquilo que o jogador quer explorar nesse mundo. Na Arte, podemos identificar uma relação semelhante entre artistas, obras e espectadores, onde todos são agentes em um ambiente repleto de ações que estão prestes a acontecer.

Além disso, a abordagem de Denu, centrada na exploração do ambiente virtual, aproxima-nos da ideia de que suas obras podem ser consideradas como um tipo de linguagem instalativa, com objetos dispostos intencionalmente no espaço. São elementos oníricos, cromados e livremente desenhados em 3D. Dispostos em composições, carregam em si não só a representação das formas, mas também elaborações sobre tempo e materialidade.

As estruturas esqueléticas, míticas, são como fósseis que manifestam a presença de vida a partir de uma sugestão, de indícios. Esse recurso, presente em boa parte de sua obra, funciona como uma comprovação de concretude nesses universos, como ossadas que atestam a existência de vida anterior em um local determinado. Na ausência de localização, Denu nos sugere a presença por meio de rastros, como pistas do jogo artista-obra-espectador.

Há ainda, em nossa percepção de observadores, alguma dificuldade em atribuir qualidade de matéria a esses objetos virtuais. Diante disso, Denu opta pelo uso dessa simbologia, jogando com seus significados, como uma estratégia para que a ordem material das coisas se alargue e possa abarcar também aquilo que tem origem digital.

Finalmente, o artista nos convida à contemplação, como a que praticamos diante de monumentos históricos. Instiga-nos a experimentar esse conjunto de sensações, nos aproximando do enigmático e do inexplorado. Uma certa reverência em estar diante dessa memorabilia digital reforça a ideia de que o melhor caminho para a leitura das obras de Denu não é pela imagem em si, mas pelo entendimento de que são representações de experiências instalativas digitais.


Rewind

2023

Still

Rewind nos revela uma profusão de símbolos organizados em um ambiente estéril, fechado e com iluminação controlada. Ao observar os detalhes, é possível notar objetos como um desenho de criança, um coração que irradia uma luz vermelha, pequenas estrelas azuis e até um móbile, formando uma composição com itens que parecem ter sido retirados de uma memória de infância e colocados à luz de uma observação científica.


Resist

2023

Still

Resist é composto por uma paisagem selvagem, mas construída artificialmente, que abriga seres metalizados. Observamos este ambiente por meio de molduras cromadas que nos separam da cena, funcionando como um portal. À esquerda da composição, é possível observar um objeto, também metalizado, que se encontra separado e protegido do restante do ambiente, como uma perturbação não pertencente a esse ecossistema único.


✧˖°･꒰ ♡ 𝑆𝑒𝑐𝑟𝑒𝑡 𝐷𝑒𝑠𝑖𝑟𝑒𝑠 𝑃𝑜𝑛𝑑 ♡

2022

Vídeo, 20”

O vídeo em loop apresenta uma ambientação que se assemelha à tela de descanso comum em jogos digitais. É possível observar símbolos que fazem referência à quantidade de vidas restantes em uma partida, os controles que direcionam os movimentos dos personagens e ainda uma barra de progresso na parte inferior da tela. A combinação da música, da ambientação e do ser que flutua pelo lago na parte central trazem uma atmosfera lúdica para este espaço de contemplação digital.


EDAMI (◞‸◟ㆀ)

2022

Vídeo, 20”

A natureza deslocada em EDAMI (◞‸◟ㆀ) simula um terrário que abriga fósseis de seres místicos criados a partir da modelagem em 3D.  A cena pode ser entendida como um registro de vida já existente e que agora é colocado para observação em um ambiente isolado, congelando interações que apenas podem ser imaginadas, criando uma narrativa onde esses seres são imortalizados através da virtualidade.



Bloody Moon

2023

Still

A paisagem noturna de Bloody Moon apresenta um movimento espiralar, no qual a lua ganha centralidade, objetos e criaturas orbitam seu entorno. Ao centro, também há um ponto luminoso preso a um cetro e, ao navegar pelo espaço, encontramos a repetição de objetos pontiagudos e metálicos. No chão, a forragem orgânica e quadriculada complementa a cena junto às estrelas. Os elementos afiados e cromados, dispostos nesse ambiente escuro, ajudam a compor a cena onírica.