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biarritzzz denu Suzete Venturelli Gilbertto Prado Sobre Ficha técnica

biarritzzz

MANDACURA Videoarte 10'20'' - 2016

Imagens de arquivo, colagem digital, vídeo de webcam, captura de tela, GIFs, cor, som.

O título Mandacura emerge da junção e distorção das palavras "mão da cura". Apesar de ressoar como um termo afro-indígena brasileiro, a palavra representa essencialmente a ideia de que o poder da cura está contido nas mãos. O vídeo constrói-se por um fluxo incessante de preces, prazos, processos, prêmios e promessas que alimentam nosso corpo político e espiritual e que são constantemente representados – e sintetizados –, por gestos feitos com as mãos. A narrativa questiona nossa relação com as divindades, explorando as mensagens potencialmente transmitidas por elas em um momento de fim e início simultâneos. Trata-se de uma jornada na qual imagens pixelizadas carregam o espectador através de emoções conflitantes frente à sociedade, cultura, história e o futuro indefinido.

O filme se aventura pelo terreno experimental, explorando técnicas manuais de animação e incorporando GIFs autenticamente criados através de uma webcam, assim como “found footage”.

biarritzzz

Vidros de Tempo Videoarte, 3'52''

Com performance de Akwa Rodrigues da Silva (A.K.A Mother Lyly Soraya of The Kiki House Of Soraya) e captação e design de som de Anti Ribeiro. Obra comissionada pelo projeto Unfinished Camp (curadoria geral de Hans Ulrich, e latinoamericana por Pivô Arte e Pesquisa).

Em "Vidros de Tempo parte I”, biarritzzz nos convida a embarcar em uma jornada introspectiva pelos domínios do tempo e do espaço através da engenhosa exploração de espelhos em uma máquina a laser. Seu trabalho converge temas profundos de ilusão tanto óptica quanto social, buscando desvendar os labirintos da realidade contemporânea. Convoca uma entidade etérea, uma voz ancestral que narra histórias do Tempo, tecendo magia e mistério nas areias e mares de nosso entendimento coletivo sobre ideias como “futuro” e “centro”. Neste trabalho, as palavras não são apenas veículos de comunicação, mas entidades dançando em refrações infinitas na tela, cada uma contendo universos de possibilidades. A narrativa, cheia de simbolismo e metáforas, desafia-nos a reconsiderar nossas preconcepções e a mergulhar em reflexões sobre o presente para além de uma visão linear do tempo.

biarritzzz
Por Ana Roman, Tálisson Melo, Tânia Sulzbacher e Thiara Grizilli

biarritzzz – ou, em uma tradução para o português, 'a bia que cria hits' –, é uma artista de hiperstições. Esse neologismo, criado nos anos 1990 pelo filósofo britânico Nick Lane, designa fenômenos nos quais a ficção pode se autorrealizar, influenciando e eventualmente gerando eventos no mundo real, por meio da imaginação e das crenças humanas. Como nas superstições (crendices populares que criam comportamentos compulsórios, e não necessariamente se realizam), trata-se da dinâmica pela qual narrativas ficcionais não apenas retratam uma realidade alternativa, como chegam a interferir diretamente no tecido da realidade.

Os trabalhos de biarritzzz criam-se como universos fictícios em que elementos populares, imagens reconhecíveis e “pobres” (STEYERL, 2009) são utilizadas na constituição de uma estética intencionalmente “tosca” e aparentemente “não profissional”. Para a artista, não importa a procedência ou significado a priori desses elementos ao compor seus trabalhos: eles se repetem em distintos momentos e contextos, e colocam-nos, como espectadores, em um tempo que não é linear ou progressivo, mas reiterativo. Nos vídeos Mandacura (2016) e Vidros de Tempo (2021), ela cria um ritual no qual a repetição visual e sonora marca um quase-transe permeado por glitch e memes.

Nesses trabalhos, encontramos ainda figuras espectrais que parecem guardar alguns dos segredos do universo: contam, aos sussurros, que a imaterialidade do tempo presentifica-se em imagens virtuais, criadas por espelhos ou, mais contemporaneamente, pelo metaverso digital. Neste sentido, a areia carrega, para biarritzzz, a simbologia das memórias ancestrais da Terra – por já terem sido rochas –, e da capacidade de se transformar em espelhos, os vidros de tempo.

Espelhos (2021 - 2023) consiste em uma instalação imersiva híbrida, na qual o espectador é convidado a interagir com uma escultura totêmica em um espaço tridimensional. Neste objeto central inscreve-se um pequeno poema em espiral, de modo que o movimento de aproximar e distanciar do cursor transforma-o em pixels. O poema conta uma experiência de sonho em que realidade e ficção se misturam nas areias do oceano. A obra de biarritzzz parece perseguir a materialidade do tempo simultaneamente à consciência de sua virtualidade. Do que é feito então o tempo que nos atravessa e nos emaranha, entre o real e ficcional?



Caminhei em sonho dormido caminhos de imensidão (2, 2023) Instalação digital. Imagens de arquivo, colagem digital, GBL, GIFs, legendagem, vídeo MP4, som MP3.

Do que é feito o tempo? Um sonho? Areia vertendo numa ampulheta? Uma virtualidade que já se enraizou em nossa percepção da existência entre passado e futuro? Essas questões emergem da produção e pesquisa de biarritzzz, com formulações específicas a partir de um poema desenhado pela artista, trazendo em seu primeiro verso a ideia que dá título a esta obra: “Caminhei em sonho dormido caminhos de imensidão”. Em 2021, o poema foi disparador para a criação de uma instalação imersiva apresentada no Centro Cultural São Paulo, na qual a artista buscou materializar sua reflexão sobre as tecnologias digitais, pensando o virtual e sua ancestralidade a partir do dispositivo espelho - tecnologia milenar que é fruto da transformação dos grãos de areia em vidro. Nessa primeira versão, a artista transforma o poema escrito à mão em forma de espiral num arquivo adaptado para leitura em impressora 3D. A impressão virtual não é alimentada da materialidade de sua confecção, tornando-se um processo coreográfico no ar, movendo um monte de areia disposto pela artista dentro da impressora. Nesta segunda versão recente, biarritzzz nos oferece a interação virtual com o poema em forma de imagem digital tridimensional que flutua no interior de uma instalação digital. Nesse ambiente de GIFs com imagens, vídeos de arquivo e um ruído mecânico (o som gravado da impressora 3D que operava na versão física da instalação, sendo alterado por grãos de areia se infiltrando na máquina), há a possibilidade de interação com o poema tridimensional. No entanto, esse acesso vai sendo gradualmente obstruído ao longo da exposição, à medida que grãos de areia vão se amontoando no primeiro plano da instalação digital, até cobrir toda a tela e tornar o ambiente inacessível, produzindo uma outra virtualidade no passado, presente e futuro simultaneamente.



Mandacura (2016) Videoarte, 10'20''. Imagens de arquivo, colagem digital, vídeo de webcam, captura de tela, GIFs, cor, som.

O título Mandacura emerge da junção e distorção das palavras "mão da cura". Apesar de ressoar como um termo afro-indígena brasileiro, a palavra representa essencialmente a ideia de que o poder da cura está contido nas mãos. O vídeo constrói-se por meio de um fluxo incessante de preces, prazos, processos, prêmios e promessas que alimentam nosso corpo político e espiritual e que são constantemente representados – e sintetizados –, por gestos feitos com as mãos. Aventurando-se pelo terreno experimental, explorando técnicas manuais de animação e incorporando GIFs autenticamente criados através de uma webcam, como “found footage”, a narrativa questiona nossa relação com as divindades, explorando as mensagens potencialmente transmitidas por elas em um momento de fim e início simultâneos. Trata-se de uma jornada na qual imagens pixelizadas carregam o espectador através de emoções conflitantes frente à sociedade, cultura, história e o futuro indefinido.



Vidros de Tempo (2021) Videoarte, 3'52''

Com performance de Akwa Rodrigues da Silva (A.K.A Mother Lyly Soraya of The Kiki House Of Soraya) e captação e design de som de Anti Ribeiro. Obra comissionada pelo projeto Unfinished Camp (curadoria geral de Hans Ulrich, e latinoamericana por Pivô Arte e Pesquisa).

Em "Vidros de Tempo parte I”, biarritzzz nos convida a embarcar em uma jornada introspectiva pelos domínios do tempo e do espaço através da engenhosa exploração de espelhos em uma máquina a laser. Seu trabalho converge temas profundos de ilusão tanto óptica quanto social, buscando desvendar os labirintos da realidade contemporânea. Convoca assim uma entidade etérea, uma voz ancestral que narra histórias do Tempo, tecendo magia e mistério nas areias e mares de nosso entendimento coletivo sobre ideias como “futuro” e “centro”. Neste trabalho, as palavras não são apenas veículos de comunicação, mas entidades dançando em refrações infinitas na tela, cada uma contendo universos de possibilidades. A narrativa, cheia de simbolismo e metáforas, desafia-nos a reconsiderar nossas preconcepções e a mergulhar em reflexões sobre o presente para além de uma visão linear do tempo.