Suzete Venturelli
Que país é esse
Animação Computacional, homenagem a Renato Russo
Duração: 02:47”
Dimensão: 320x240 pixels
No final da década de 1980, Venturelli atuou junto a diferentes departamentos da Universidade de Brasília, criando um software de modelagem e animação tridimensional, do qual Que País É Este é resultado. O título homenageia a música de Renato Russo, consagrada em álbum homônimo da banda brasiliense Legião Urbana. No mesmo ano em que o álbum foi lançado, o Plano Piloto de Brasília foi designado como patrimônio mundial pela UNESCO, marcando assim um momento de exaltação do projeto moderno. A canção, no entanto, denuncia as desigualdades políticas e sociais vivenciadas no país, em contraposição ao sonho modernista. Na animação de Venturelli, corpos humanos nus “dançam” ao som da canção, executando movimentos distorcidos, que extrapolam a capacidade física de um corpo humano real, atrás dos quais são projetados cenários que remetem a uma estética popularizada pelos videogames e videoclipes dos anos 1980. Se, por um lado, a representação desses corpos parece aludir, de maneira lúdica, ao pensamento pós-humanista, enquanto referência a uma transformação radical do humano e da sociedade pelo desenvolvimento das novas tecnologias, a combinação desses elementos cria uma ambiência distópica, que pode ser interpretada como um desencantamento de certas perspectivas utópicas fundamentadas no desenvolvimento tecnológico.
Gilbertto Prado e Suzete Venturelli
Amanda Sammour, Carla Cruz, Marcella Imparato e Rachel Vallego
Gilbertto Prado e Suzette Venturelli são artistas de uma geração pioneira de experimentação das artes visuais com as tecnologias digitais entre os anos 1980 e 1990. Ambas as trajetórias estão intimamente ligadas à pesquisa na universidade, entrelaçando a investigação artística com o pensamento coletivo, interdisciplinar e experimental produzido nesses espaços. Suas práticas se contrapõem à lógica produtivista, está comumente associada a uma abordagem utilitarista da tecnologia e à objetividade do pensamento científico, subvertendo seu uso e sugerindo outras formas de estar e perceber a realidade.
As obras apresentadas nesta exposição evidenciam uma sátira da ideia de funcionalidade evolucionista da tecnologia moderna, cristalizada no imaginário ocidental desde as primeiras invenções industriais. Nas últimas décadas do século XX, a difusão do fax, do scanner, da fotocópia, da televisão e de um meio digital em desenvolvimento são veículos a serviço da propaganda e da produtividade. Trabalhos como os de Prado e Venturelli apropriam-se destes meios para investigar suas propriedades criativas e narrativas, ora para transformar a interação coletiva, ora para fazer um comentário politicamente engajado sobre o corpo social.
Destacam-se ainda a interação do corpo com a máquina computacional e a exploração da dimensão temporal a partir dessa interface: as intervenções no processo de transmissão de um fax de um ponto geográfico a outro, ou, no intervalo entre a reprodução do movimento do observador diante da câmera e sua projeção na tela,parecem denunciar que a realidade digital para esses artistas não é um simples espelhamento das nossas ações ditas "reais", mas constituem uma abertura para novos sentidos e possibilidades de engajamento sensorial e coletivo.
No fio de suas pesquisas desenvolvidas nas últimas décadas, suas obras vêm explorando códigos, imagens, performances e outras visões de mundo possíveis a partir de uma arte em rede. Ao lançarem luz sobre novas abordagens das chamadas novas mídias, fazem um movimento crítico na contramão do mito do desenvolvimento tecnológico utilitarista e positivista. Assim, os trabalhos de Venturelli e Prado representam, num arco histórico que abrange desde os anos 1980 até a atualidade, uma série de transformações nas pesquisas sobre arte e tecnologia ao longo do tempo.
Que país é esse (1989 - 1999)
Animação Computacional, homenagem a Renato Russo
Duração: 02:47”
Dimensão: 320x240 pixels
No final da década de 1980, Venturelli atuou junto a diferentes departamentos da Universidade de Brasília, criando um software de modelagem e animação tridimensional, do qual Que País É Este é resultado. O título homenageia a música de Renato Russo, consagrada em álbum homônimo da banda brasiliense Legião Urbana. No mesmo ano em que o álbum foi lançado, o Plano Piloto de Brasília foi designado como patrimônio mundial pela UNESCO, marcando assim um momento de exaltação do projeto moderno. A canção, no entanto, denuncia as desigualdades políticas e sociais vivenciadas no país, em contraposição ao sonho modernista. Na animação de Venturelli, corpos humanos nus “dançam” ao som da música, executando movimentos distorcidos, que extrapolam a capacidade física de um corpo humano real, atrás dos quais são projetados cenários que remetem a uma estética popularizada pelos videogames e videoclipes dos anos 1980. Se, por um lado, a representação desses corpos parece aludir, de maneira lúdica, ao pensamento pós-humanista, enquanto referência a uma transformação radical do humano e da sociedade pelo desenvolvimento das novas tecnologias, a combinação desses elementos cria uma ambiência distópica, que pode ser interpretada como um desencantamento de certas perspectivas utópicas fundamentadas no desenvolvimento tecnológico.
A Sua Performance I e II (2015 - 2023)
Animação Computacional, homenagem a Renato Russo
Duração: 02:47”
Dimensão: 320x240 pixels
A Sua Performance é uma obra generativa que utiliza a webcamera do computador ou do dispositivo móvel do público-participante, convocando-o(a) para criar e gravar a sua própria performance. Há duas opções de filtro, as quais produzem distorções daquele ou daquela que se coloca em movimento diante da câmera, criando um jogo entre a dimensão física e a virtual, mas também explorando a dimensão do tempo da e na imagem pelo atraso na projeção do movimento realizado. Como afirma a artista, a obra baseia-se na anamorfose cronotópica, ou quarta dimensão na imagem, isto é, nas deformações causadas pela inscrição do tempo no registro das imagens – técnica explorada por fotógrafos nas décadas de 1920 –, explorando tanto a percepção sensível da dimensão temporal e do corpo no digital, quanto as novas possibilidades de performance à distância.
Manacá-de-cheiro (2021)
Obra generativa em linguagem P5JS
Superando a compreensão de que esta obra é um produto óptico-sensorial da programação de algoritmos determinados por Prado e Venturelli, Manacá-de-cheiro é sobretudo resultado de uma observação fenomenológica que se desdobra em experiência perceptiva.
De nome científico Brunfelsia uniflora, essa árvore originária da Mata Atlântica pode atingir cerca de 3 metros de altura. Em copas arredondadas que se estendem a 2 metros de diâmetro, suas folhas ovais e lisas atraem Borboletas-do-Manacá que ali depositam seus ovos, tornando-as alimento exclusivo de lagartas. A temporalidade programável deste trabalho remete à vida e ao esvanecimento dela.
No meio digital, parâmetros ambientais como o posicionamento da luz solar, a mutabilidade cromática das flores de manacá e a relação inegociável da natureza com o tempo são contemplados nos estágios de surgimento e desaparecimento da obra.
Assim, os artistas criam um senso de engajamento ambiental e estético ao se apropriarem de atributos reais da paisagem. Uma vez ativada, a obra opera como um dispositivo comunicante entre o espectador e a manifestação de indicadores naturais do ambiente: o Manacá-de-cheiro cresce através e dentro da tela.
Desse modo, este trabalho desafia a proposição de que a tecnologia nos desengaja do ambiente ao se revelar como uma contradição, recorrendo justamente à tecnologia e a parâmetros algorítmicos para reengajar sensorialmente o espectador à natureza.